Para quê serve um dramaturgo?
Segundo Aristóteles dramaturgia é
a arte de estruturar os atos humanos
logicamente, visando despertar intensas paixões ou uma condição de extremo
encantamento, êxtase.
Para nos aprofundamos sobre a
definição de Aristóteles vamos dar uma olhada na etimologia de alguns termos
importantes para definir qual a serventia de um dramaturgo:
DRAMA – do
Grego drama, “ação, feito” (especialmente relativo a algum grande feito, fosse
positivo ou negativo), de dran, “fazer, realizar, representar”;
DRAMATURGO – do
Grego dramatourgόs, composto por dramatos (relativo à drama) e ergon,
literalmente “trabalho”;
PEÇA – do
Francês antigo pièce, do Frâncico pettia, “medida, porção, parte”;
TEATRO – do
Latim theatrum, do Grego theatron, literalmente “lugar para olhar”;
CINEMA – do
Grego kinema, “movimento”, de kinein, “mexer, deslocar, movimentar”;
PAIXÃO – do Grego
pathe, “sentir”;
ÊXTASE – do Grego
ekstasis, “estar fora de si”. Estado causado uma emoção forte, em que o
indivíduo se sente transportado para fora de si próprio, elevado a realidades
que ultrapassam o sensível;
EXPECTADOR - do
latim spectator, “aquele que assiste”.
Modernizando a definição dado por
Aristóteles, de forma livre, poderíamos dizer que:
Dramaturgia é a arte de
transformar um drama (ação, feito) humano em peça (porção, parte), a ser exposta
“em movimento” em um “lugar para olhar” (teatro, cinema, TV, internet), visando
despertar sentimentos e/ou reflexões naquele que assiste.
Logicamente o dramaturgo é aquele
que cria a dramaturgia, conforme a definição de Aristóteles ou conforme nossa
livre adaptação, e desta forma podemos começar a responder à pergunta inicial:
Para quê serve um dramaturgo?
1) Serve para
transformar um drama em peça.
Observe que não se afirma que o
dramaturgo serve para criar um drama, ou criar uma peça. O ato de criação é
função do autor. Normalmente o dramaturgo é também o autor, porém esta não é
uma condição necessária. Quando, por exemplo, o dramaturgo adapta uma obra
literária não é ele o autor, ele apenas transforma em peça dramatúrgica o drama
original fornecido pela obra literária.
2) Serve para identificar
o drama.
Voltando ao exemplo da adaptação
de uma obra literária, o dramaturgo não pode simplesmente transpor a narrativa
literária, ele deve primeiro identificar quais são os dramas desenvolvidos por aquela
narrativa.
3)
Serve para transformar uma idéia em drama e este drama em peça.
Como já dito o dramaturgo pode
ser também o autor, e para tanto a idéia contida na peça deve ser dele. Entretanto,
diferentemente da adaptação e da autoria, o dramaturgo pode também trabalhar
sob um objetivo, ou idéia original, que lhe é dado por terceiros. Como exemplos
temos os trabalhos publicitários, onde o objetivo é dado pelo cliente (o
fabricante, a agência, o criativo…) e partindo do que é dado o dramaturgo cria
o drama e concebe a peça.
4)
Serve para orientar, ou corrigir, peças não necessariamente dramáticas (um
show musical, um programa de auditório, uma palestra…) que necessitem de uma estruturação
dramatúrgica.
A estrutura dramatúrgica permite que se desenvolva inicio, meio e fim de forma a manter a empatia daqueles que assistem, evitando o eventual desinteresse ou desgaste prematuro da apresentação.
A estrutura dramatúrgica permite que se desenvolva inicio, meio e fim de forma a manter a empatia daqueles que assistem, evitando o eventual desinteresse ou desgaste prematuro da apresentação.
O dramaturgo é um profissional técnico,
é aquele que conhece as técnicas dramatúrgicas e através delas atinge
determinado fim. A confusão, que é corrente, entre autor e dramaturgo acaba por
esconder as reais funções deste profissional e também por desqualificá-lo. Quando
consideramos que um autor (de teatro, cinema, TV), sem conhecimentos técnicos
de dramaturgia, é um dramaturgo ou roteirista (o qual deve ter as mesmas
qualificações do dramaturgo e mais algumas tangentes a aspectos audiovisuais) nós
estamos vulgarizando os termos e desqualificando as respectivas profissões. Um
cozinheiro, sem conhecimento técnico de ingredientes, utensílios e etc. pode
sim fazer bons pratos, mas não poderá ser chamado de Chef, o mesmo deve ocorrer
com autores e Dramaturgos/Roteiristas. Só desta forma as utilidades de um
dramaturgo passarão a ser mais utilizadas e compreendidas.
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