Novelas mais curtas no futuro?
Há cerca duas semanas terminou a novela
Avenida Brasil, um produto dramatúrgico icônico como há muito tempo não se via
e cuja repercussão ultrapassou fronteiras, invadindo as redes sociais e
pautando veículos de mídia do Brasil e do exterior.
Mas e a qualidade dramatúrgica?
Mas e a qualidade dramatúrgica?
Avenida Brasil tinha uma ótima “estória
de arrancada”, o que tornava a motivação de sua protagonista, a jovem Nina,
inquestionável. Por outro lado a antagonista da estória, uma vilã cínica e,
desde o inicio da trama, sem freios morais não tinha motivação clara para tanta
maldade, era a vilã má sem motivação moral (as óbvias motivações por dinheiro e
poder, presente em quase todos os vilões, estavam lá). Ao lado da protagonista
e da vilã, vários escudeiros e coadjuvantes em dois núcleos sólidos, o lixão e
o Bairro do Divino, além de um núcleo menor composto pelo “trígamo” e suas
esposas e filhos.
Após o inicio dramatúrgico vigoroso, do meio para o final da novela houve certo “descarrilamento dramatúrgico”, ou fadiga das reviravoltas que alucinaram ao público desde o primeiro capítulo. Na metade final da novela a protagonista perdeu força, um novo vilão foi inserido, saindo do nada e indo a lugar nenhum, para justificar uma forçada redenção da antagonista, e o inócuo recurso do “quem matou?” foi utilizado para reaquecer os últimos instantes da trama. Um último ponto que me chama a atenção é que a ideia central da trama, ou que acreditava-se ser a ideia central da trama de vingança, de que todos têm lado bom e mal, que mesmo a mocinha mais justa tem em si um lado vilã, poderia ter sido levada a um corajoso extremo caso fosse Nina a assassina misteriosa, e isso até engrandeceria o ato redentor da vilã de assumir a culpa. Avenida Brasil terminou bem diferente de seu inicio, com acertos de trama apressados, inverossímeis e com uma solução covarde para o igualmente covarde recurso do “quem matou?” das última semanas de novela. Seria esta uma maldição da "obra aberta"?
Para, quem sabe, iniciar um debate sobre a
mais popular aplicação da dramaturgia na cultura brasileira, gostaria de deixar
algumas perguntas:
Será que a novela brasileira não
está longa demais?
Será que repensar a duração das tramas para 3 ou 4 meses, ou algo próximo de 100/120 capítulos, não daria novo fôlego criativo ao gênero?
Será que grandes sucessos recentes, como “Avenida Brasil” e “Cheias de charme”, por sinal novelas de uma novela geração de autores, não seriam ainda melhores caso tivessem um número menor de capítulos, o que impediria, ou atenuaria, os ciclos viciosos e repetitivos das tramas de novelas?
Será que repensar a duração das tramas para 3 ou 4 meses, ou algo próximo de 100/120 capítulos, não daria novo fôlego criativo ao gênero?
Será que grandes sucessos recentes, como “Avenida Brasil” e “Cheias de charme”, por sinal novelas de uma novela geração de autores, não seriam ainda melhores caso tivessem um número menor de capítulos, o que impediria, ou atenuaria, os ciclos viciosos e repetitivos das tramas de novelas?