VERMELHO E DE GOSTO PECULIAR
Não era exatamente uma visão confortável.
Era vermelho e tinha um gosto peculiar.
Ela pensou seriamente em chorar, mas de nada
adiantaria, já que o mundo era um deserto particular.
Foi terrível o acidente.
A sorte a salvou.
Sim foi a sorte, esta magnifica “coisa” na qual
ela sempre acreditou e sempre acreditaria.
Ela precisava de jogos. Aquele era o resultado
de um jogo íntimo.
- Até que ponto eu posso chegar?
Certamente já havia ocorrido outrora, mas só
agora ela tinha discernimento para horrorizar-se com o vermelho em suas pernas.
Foi estranho constatar que por dentro ela era líquida.
Levantou-se e correu para o gramado. Olhou para
o caminho percorrido para certificar-se de que não desenhara um caminho em
vermelho. Nenhuma gota. Tudo estava encrostado em sua pele. Teve vergonha.
O que iriam pensar os que olham de cima? Como
voltaria para sua casa?
As perguntas não faziam sentido, pois já conhecia
bem as respostas.
Era uma questão de coragem transformar as
respostas óbvias em ação.
A grama estava queimada,
seus olhos lacrimejantes,
sua bicicleta ruborizada,
suas pernas cruentas.
Delongaram-se pouquíssimos segundos para que
percebesse que sangrara,
e aquela consciência perduraria até seu leito de
morte.
As nuvens anunciavam a proximidade da chuva.
Resoluta ergueu-se e ignorou a dor.
Colheu sua bicicleta, antes abandonada na
sarjeta, e hesitou antes de montá-la novamente.
Apostou novamente na sorte,
e conseguiu bater o recorde de velocidade
estabelecido pouco antes do acidente.
Tinha 6 anos e percebeu que sangrava, mas nada
mudou.
Mesmo sangrando ela continuou.
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